Como
Consultora de Carreira, uma das minhas principais atividades é estimular o
profissional a desenvolver a sua empregabilidade. Para isso, é importante ter
consciência de suas habilidades técnicas e comportamentais, clareza sobre seus
valores e motivadores, além de reconhecer que a trajetória profissional é feita
de ciclos, com início, ascensão e declínio.
Para um
processo de Transição de Carreira é necessário coragem para ressignificar
vários pontos e, assim, abrir espaço para descobrir as infinitas novas
possibilidades que podem se abrir, tanto na própria empresa como no mercado, e
se permitir sonhar e desvendar novos potenciais. Este novo período pode começar
por um “empurrãozinho externo” ou um desejo interno de mudança.
Tivemos a
oportunidade de conversar com Fernando Tourinho, Diretor de Recursos Humanos da Bosch na América Latina, que nos presenteou com um
belo relato de sua própria trajetória profissional, passando não apenas por
uma, mas por algumas transições de carreira.
Tourinho
possui em sua essência o desejo de sempre fazer o melhor, desenvolvendo
processos e projetos que efetivamente tragam resultados sustentáveis,
colocando-se em constante aprendizado e transformação, buscando novas formas de
potencializar e motivar as pessoas. “Desejo que as pessoas consigam aquilo que
vieram buscar, que o meu trabalho traga satisfação e felicidade a elas”, nos
contou.
Para ele, o sucesso profissional não depende apenas das competências e habilidades, mas também da identidade dos valores e propósito de vida. Ao fazer estágio na Bosch ele se identificou e se apaixonou pelos valores da empresa e pelo programa de desenvolvimento de pessoas que, obrigatoriamente, estimula a mudança de área de negócios e de localidade. Estes requisitos fomentam o aprendizado de outras realidades de negócios e mercados, além de outras culturas e pessoas.
Trajetória Profissional
Formado em
engenharia de produção mecânica, começou na área de engenharia ajudando a planejar
e gerir os processos de fabricação. Com ávido desejo de entender sobre outros
assuntos, fez pós-graduação na área financeira e na área de administração,
possibilitando uma transição para a área de controladoria, ficando responsável
pelos custos de fabricação e se envolvendo em vários projetos ao longo dos
anos.
Um desses
projetos foi o fechamento de uma fábrica na cidade de São Paulo e, ao fazer a
apresentação do novo plano para aquela localidade, o presidente lhe fez uma
pergunta inesperada: “Poxa que legal, eu entendi a sua apresentação e tal, mas
qual é a sua opinião sobre o que a gente deveria fazer?”. O presidente não
perguntou sobre os cálculos, o retorno esperado, os riscos e o tempo
determinado, ele perguntou qual era a sua opinião. E isso despertou o seu
desejo de ampliar ainda mais sua visão sobre as coisas e suas interações, e se
envolver com projetos que traziam uma compreensão maior do negócio.
Esse desejo
de evoluir cada vez mais o levou a uma nova transição, agora para a área de
logística, assumindo um novo projeto na construção de uma fábrica na Turquia.
Morou também na Alemanha e só retornou ao Brasil para assumir a posição de
Vice-Presidente Financeiro Administrativo em uma das empresas do grupo na
América Latina.
Em 2013, o
presidente da empresa o convidou para ocupar o cargo de Head de RH. Ao
questionar o porquê eles achavam que isso daria certo, uma vez que seu
background não era da área de RH, foram dados dois motivos:
1- Estavam transformando os processos
de RH, já seguiam o modelo de Dave Ulrich sobre os papéis de RH, e gostariam de
melhor atender as localidades do Grupo Bosch na América Latina, por exemplo, formando
hubs de serviços. Para isso, precisavam mudar os processos de RH para serem
mais eficientes e conseguir fazer os diferentes tipos de serviços com
produtividade, papeis bem definidos e novas ferramentas;
2- Eles precisavam de um profissional com experiência na gestão de negócios da empresa em diferentes áreas e localidades do Grupo, trabalhando com transformação e melhoria de processos e reconhecido por pessoas e times que havia liderado. Mesmo não conhecendo especificamente os processos de RH, conhecia sobre formação de processos e de times. Para auxiliá-lo, teria ao lado uma equipe madura.
O time conseguiu implementar os modelos de gestão de RH desejados e ampliar a contribuição para que as outras áreas da empresa se tornassem ainda mais estratégicas. Em sua opinião, estratégia não depende do que se faz, mas sim do que se entrega de resultado concreto, com base na visão futura do negócio. É preciso, verdadeiramente, entender as necessidades do cliente, fazer as perguntas pertinentes, assegurar as condições necessárias para a motivação das pessoas (que é intrínseca) e a sustentabilidade financeira da empresa. O RH cuida para que a empresa tenha um ambiente que atraia e mantenha os melhores profissionais, de forma a motivar o seu desenvolvimento e a entrega de resultados efetivos.
Lifelong Learning
Para continuar construindo esta brilhante trajetória profissional, Tourinho disse estar em constante aprendizado e aberto para encarar os desafios que o momento atual apresenta:
- Equilibrar o senso de urgência e necessidades;
- Incorporar o mindset de Metodologias Ágeis e Design Thinking;
- Incluir mais ferramentas digitais para agilizar os processos;
- Avançar na transformação da Bosch para uma empresa de AIoT (união de Inteligência Artificial e Internet das Coisas);
- Combinar os conceitos de Liderança Situacional, Liderança da Coletividade e Liderança Colaborativa;
- Ampliar o Mentoring Reverso Intergeracional;
- Continuar fomentando o intraempreendedorismo e desenvolvimento de novos produtos e serviços;
- Promover a saúde dos colaboradores, em especial a saúde física e emocional, nesse momento;
- Melhorar cada vez mais a qualidade de vida dos colaboradores e da comunidade assistida pelo Instituto Robert Bosch; e
- Estar preparado para a nova realidade do pós-pandemia.
Este foi um belo exemplo de Transição de Carreira interna que envolveu descobertas de talentos e provocou Tourinho a enfrentar os desafios e se desenvolver de forma multidisciplinar com um olhar sistêmico. Isso contribuiu para construir um ambiente capaz de rapidamente absorver as mudanças e se alinhar às novas trilhas impostas pelo mercado em constante movimento, especialmente neste último 1 ano e meio.
No percurso da minha atuação como consultora vivenciei outros modelos de Transição de Carreira. Destaco a descoberta de trajetórias empreendedoras, deixando o mundo corporativo e caminhando para o negócio próprio como consultor, terapeuta, trabalhos artesanais e voluntariado.
Agradeço ao Fernando Tourinho a oportunidade deste bate papo tão agregador e inspirador. Espero que esta contribuição possa tocar e motivar o coração de outros profissionais, desenvolvendo coragem e determinação para a conquista de múltiplas oportunidades. Estas atitudes fortalecem a reestruturação da identidade, a empregabilidade e expande a visão de protagonismo.
Abraços,