No final dos anos 80 me formei em psicologia e fui
trabalhar em recrutamento e seleção em uma multinacional. Tive que aprender
rapidamente o papel do RH e lá fui eu, no início dos anos 90, correndo e atravessando
a rodovia Anhanguera para pegar o ônibus para São Paulo e fazer minha primeira especialização
em Gestão de RH.
De lá para cá muitas coisas aconteceram e fui aprendendo
como contribuir para a área de negócios e não ser taxada como “RH que abraça
árvore”. Sim, esse é um estigma que afastava o RH da mesa de decisões estratégicas.
No início dos anos 2000, o glamoroso e desejado cargo “HR
Business Partner” apareceu com força. Tratava-se,
a partir daí, de jogar o jogo com a
liderança e não contra e nem apesar dela. Afinal, a liderança é a mola
propulsora da estratégia e molda a cultura da empresa.
Parece simples, mas na prática não é. Para sermos
um bom parceiro de negócios, precisamos despir-nos dos nossos pré-conceitos e
julgamentos sobre as atitudes dos líderes. Além disso, temos que saber olhar na
mesma direção em que eles olham e oferecer nossa perspectiva como um presente e
não como uma imposição ou punição.
Você já ouviu o mantra “O RH tem que ser mais
estratégico, falar a linguagem do negócio” e ficou pensando o que isso queria
dizer? Abaixo compartilho 3 lições que aprendi com diferentes líderes de
negócio:
1ª Lição: “Vai lá no campo conhecer nossos clientes”
Na volta me diz como faremos o treinamento dos
vendedores. Foi o que me disse um diretor de negócios, mesmo eu não tendo
experiência prévia em vendas. Conhecer as necessidades do cliente do ponto de
vista dele, em seu ambiente, em vez de supor
como ele pensa, age e lida com as diferentes situações de negócio é uma
experiência que muda para sempre nossa maneira de ver a gestão das pessoas,
conectada com a estratégia de cada negócio.
Esta ação cria um senso de urgência de acertar, de fazer
melhor para que o cliente realmente obtenha o que precisa e tenha bons
resultados. É uma experiência que desejo a todos os colaboradores, independente
da área.
Ao conhecer as dores e desejos do cliente, abrimos
espaço para construir soluções com ele que atendam a todos e pode ter certeza
de que ele ficará altamente engajado!
O que fiz ao voltar? Conversamos e mudamos a maneira de fazer treinamento dos vendedores. Não só eles eram convidados, mas também todos os envolvidos na cadeia de atendimento ao cliente com participação ativa e colaborativa de todos.
2ª Lição: “Nem sempre é bom ter todas as respostas”
Fui uma das profissionais de RH escolhidas para ajudar
no processo de transformação de uma empresa. Na época, o desafio era ter uma
empresa orientada para o mercado e organizada internamente por processos.
A estratégia era capacitar os colaboradores para que
tivessem “cabeça de negócios” e que trabalhassem com foco na eficácia da
entrega final para os clientes e não nos objetivos individuais ou do
departamento.
E lá estava eu... feliz, palpitando em todos os
processos-chave da empresa com os gerentes e diretores selecionados. Um dia, o presidente
que estava liderando essa iniciativa me parou na portaria e disse: “Mônica,
você tem opinião para tudo, não é?!?” E eu prontamente abri um sorriso e disse:
“sim!!!”.
Ele me falou que nem sempre é bom ter uma opinião formada.
Levei anos para entender o que ele queria dizer com isso. Era a primeira vez
que o meu modelo mental, forjado no julgamento do que seria certo ou errado,
bom ou ruim, estava sendo colocado em xeque.
Desconstruir o modelo mental de comando e controle, e
construir um modelo mental de crescimento onde o erro faz parte do aprendizado
e me mostrar mais permeável a explorar diferentes alternativas, aceitando meus
medos e inseguranças com mais tranquilidade, tem sido uma longa jornada.
A parte bacana é que ao trabalhar no meu autodesenvolvimento, também tenho ajudado os líderes a olhar para seus comportamentos, a revisitar as crenças que os sustentam e a refletir se ainda são úteis.
3ª Lição: “Desafiar com elegância”
No discurso de saída de um executivo de uma
empresa ele disse aos líderes que temos que desafiar o “status quo” com elegância. Ao me despedir dele comentei: acredito
que faço bem a parte de desafiar, já a de elegância não estou indo muito bem.
Um outro executivo me disse: você tem que considerar o contexto do negócio, não adianta insistir em um tópico de RH se o momento do negócio não é propício para isso. Esses feedbacks me ajudaram a ampliar a escuta e consolidar um estilo de liderança mais empático e colaborativo.
A jornada de fazer parte e “deixar fluir”, por vezes, ainda é desafiadora para mim. Fiz treinamentos e certificações para me reposicionar e escolher as questões centrais para o momento de gestão de RH, conectando com o impacto no médio e longo prazo para o negócio.
O que é ser um RH estratégico?
Aprendi com essas e outras interações com a equipe,
pares, líderes e colaboradores que esse
é um jogo conjunto, que tem como premissa que só vale a pena se todos os
envolvidos, incluindo clientes, fornecedores, colaboradores e comunidade
ganharem com as decisões.
Ao centrarmos nas nossas habilidades a serviço de
objetivos maiores e apreciarmos de fato as diferenças, construiremos
relacionamentos e soluções robustas e maleáveis, atendendo melhor a dinâmica de
mudanças no contexto atual em que vivemos.
O profissional de RH tem sido
chamado para ajudar os líderes a entender os fatores que levam ao
desengajamento, ao aumento do turnover
voluntário e problemas relacionados à saúde mental.
As mudanças provocadas nestes dois últimos anos foram
um teste implacável na estratégia e solidez dos valores das empresas. O desafio
de cuidar das pessoas e dos negócios ao mesmo tempo, trouxe de volta o que é
de mais humano em nós no centro da estratégia.
Respeito, acolhimento e reconhecimento foram
fundamentais para atravessar a adversidade desse momento. A expansão de uma abordagem
de sustentabilidade mais ampla e perene proposta pela estratégia ESG (Ambiental,
Social e Governança) é uma força motriz para criar dias melhores para todos.
Hoje, compreendo que ser um RH estratégico é ser um RH que entende o propósito da empresa e
que ajuda a construir conexões fortes, consistentes e positivas, entre Estratégia, Liderança e Cultura.
Ao trabalhar de forma contínua na ampliação da
consciência e desenvolvimento dos líderes em um modelo integrado ao contexto de
negócios e à sociedade em que estamos inseridos, teremos pessoas e empresas com
alta performance e felizes.
Espero que essas dicas contribuam para você assumir um
assento efetivo na mesa de decisões da empresa.
Assista ao Webinar: Estratégia, Liderança e Cultura
Um abraço,
Mônica Silveira
Coaching | Mentoring / Evolução de Cultura / Desenvolvimento de Liderança / Desenvolvimento de Times