Recentemente facilitei um treinamento sobre
o papel dos gestores no desempenho e engajamento dos times e fiquei refletindo
sobre a dimensão do salto de gestão requerida. Sim, não é um mero ajuste
adaptativo.
O novo contexto econômico e social
delineado pela extensão da pandemia e pela aceleração da transformação digital,
exige um modelo mental de prosperidade e de liderança colaborativa,
com foco no atingimento de objetivos em comum, onde todos ganham: as pessoas, a
empresa e a comunidade.
Fazendo uma analogia, não se trata de um
salto com vara individual, em que as variáveis estão sob seu controle e ao treinar
e gerenciar as suas emoções você conseguirá ter bom desempenho e bater
recordes. Está mais para um salto de formação de paraquedistas, onde o
atingimento do objetivo depende da boa performance de cada um e as variáveis
fora do seu controle, como o tempo e o vento, estão interagindo com a
preparação técnica e o controle emocional de todos.
Nas palavras de uma das paraquedistas do
time que bateu o recorde paulista em Boituva em outubro/20: “você precisa de 40
pessoas calmas”. Foram convidados excelentes paraquedistas para baterem o
recorde anterior de salto em formação com 36 pessoas. Eles tinham uma crença em
comum: de que era possível bater um novo recorde, por mais difícil que fosse. E
eles estavam engajados nesse objetivo de montar uma figura à 16 mil pés (quase
5.000 metros) em torno de 45 segundos a 200Km/hora.
A capacidade de resolver problemas
complexos, a inteligência emocional e a liderança engajadora já vinham sendo apontados como fatores-chave de sucesso, tanto pelo
fórum econômico mundial, como por pesquisas de consultorias globais de gestão.
A expectativa de que o líder tenha um time
produtivo e engajado, independente do cenário e associado às suas próprias
questões pessoais, pode por vezes, gerar um efeito contrário, de estresse,
sensação de incapacidade, confusão ou desconexão.
Os gestores almejam ser admirados por
seus times. Tanto a preocupação excessiva em poupar a equipe, como a pressão demasiada
por resultados, podem ofuscar essa expectativa. Para situações complexas e
paradoxais, com muitas informações e demandas, focar nossa atenção nos
fundamentos de uma liderança engajadora pode ser um feixe de luz. Destaco três desses fundamentos: autodesenvolvimento, relação de confiança e mentalidade de crescimento.
1- AUTOCONHECIMENTO
A performance e o engajamento dos times
começam por seu próprio desenvolvimento. Estar empenhado em aprender novas Competências Técnicas e Comportamentais te prepara para liderar de forma estratégica no
contexto atual.
Lamentar-se ou debater-se com a realidade
atual, esperando que as “coisas” voltem a ser como antes, impactará fortemente
sua chance de sucesso. Também é importante refletir sobre seus valores
fundamentais, como eles estão conectados com a atividade profissional e com
o propósito da organização na qual você trabalha.
É natural que, diante da experiência de
isolamento social estendida, do aumento real do risco de vida, da perda de entes
queridos e da instabilidade econômica, algumas coisas que eram importantes
percam o seu significado.
Objetivos e prioridades podem ter mudado e
estar consciente deles ajudam, não só a atravessar esse período com mais serenidade,
como também em uma conexão mais autêntica e profunda com o time, com suas
necessidades, sonhos e medos.
2- RELAÇÃO DE CONFIANÇA
A base de qualquer relacionamento saudável
é a confiança e a relação entre gestor e time não foge à regra. A confiança
gera um ambiente psicologicamente seguro para eu ser quem sou e dar o melhor de
mim, sem medo de retaliações ou de ser rejeitado.
Ela é fruto da sua credibilidade
(congruência entre o que você fala e o que faz somado à sua competência técnica)
e do relacionamento empático, onde as pessoas se sentem importantes,
competentes e queridas.
Quando gosto de quem sou na sua presença,
sou mais espontâneo, alegre, as ideias fluem com naturalidade e juntos criamos
e vamos além do que acreditávamos ser o nosso limite.
No caso dos paraquedistas, além de estarem bem
capacitados individualmente (autodesenvolvimento), eles fizeram em conjunto, o
que chamam de trabalho de base em solo: “se não sair aqui, lá em cima não vai
dar certo porque tem risco”.
Depois de uma primeira tentativa frustrada
de formação no ar, o líder comentou que deveriam fazer alguns ajustes, pois
bater o recorde provocava uma pressão extra. Antes da terceira tentativa um
paraquedista comentou: “quando você está mais calmo, a tendência é fazer uma
coisa melhor”, e outro falou: “90% é a cabeça e 10% é a parte técnica”.
Por isso, é tão importante incluir as
diferentes perspectivas, ouvir e considerar diferentes estratégias, saber
como as pessoas se sentem sobre a tarefa e nos apoiarmos mutuamente
para um melhor resultado.
3- MENTALIDADE DE CRESCIMENTO
Se em situações mais estáveis, o modelo
mental de comando e controle já não dava conta de trazer resultados
sustentáveis no desempenho e engajamento dos times, menos ainda no contexto
atual, com tantas variáveis de diferentes naturezas acontecendo
simultaneamente.
Tentar controlar, dar a resposta certa ou
achar que sabe o melhor caminho, trará ainda mais ansiedade e frustração. Precisamos
estar verdadeiramente confortáveis em não termos a resposta exata, abrir
diálogos sobre as alternativas e tomar decisões em conjunto, enderençando
questões paradoxais com base no que é melhor para o atingimento de objetivos em
comum.
Concentrar-se no processo de
aprendizagem, apreciando o desafio tanto quanto o resultado, ajudará
a termos mais agilidade, lidando com o erro e fracasso como partes inerentes
ao processo. Construir em time a visão e a estratégia para chegar lá, fará
com que as pessoas se empoderem e sintam-se responsáveis pelo seu próprio
desempenho e dos demais.
Os paraquedistas fizeram reuniões depois de
cada salto para analisar os erros cometidos e definir os ajustes necessários. Eles
sabiam que cada salto errado custaria tempo e deixaria o time mais distante do
recorde, devido ao desgaste físico e emocional.
Depois da terceira tentativa um deles
comentou: “está mais difícil do que eu pensava”. Após o quinto salto outro
comentou: “o que está pegando é a questão emocional, precisamos controlar a
ansiedade para conseguir bater o recorde”.
Nesse momento, você pode estar se
perguntando: isso tudo faz sentido, mas por onde começo mesmo?
A jornada da liderança inspiradora e
colaborativa começa em cada um de nós, alinhando de forma consciente os sentimentos,
pensamentos e comportamentos. Os desafios e riscos ficarão menores e a
possibilidade de prosperar ficará maior se estivermos conectados com o time em
nossa essência como seres humanos.
O líder dos paraquedistas comentou que
estavam em uma velocidade de 200km/hora externamente, mas internamente precisavam
estar tranquilos. Depois da sexta e última tentativa combinada o objetivo foi
atingido e a celebração foi intensa!
O salto em formação é um tipo de desafio
que requer habilidades técnicas, foco, determinação, treino e muita diversão.
Não foi na primeira tentativa que o sucesso veio e está tudo bem. Para atingir
os objetivos da organização o líder e o time também precisam curtir, experimentar,
se aventurar, rir dos próprios erros enquanto melhoram seu posicionamento e
resultados. Todas as experiências contribuem para transcender seus limites e
expectativas.
E você, está animado para expandir a sua Liderança Colaborativa? Conte comigo para trilharmos juntos nessa jornada com foco e
leveza!
Abraço e tudo de bom,
Mônica Silveira
Coaching | Mentoring / Evolução de Cultura / Desenvolvimento de Liderança / Desenvolvimento de Times
*Foto da equipe de paraquedismo de Boituva (Ramela
2020/Divulgação)