O Dia Internacional das Mulheres é uma daquelas datas que nos convidam a fazer reflexões e reconhecer a trajetória das mulheres na sociedade e no mercado de trabalho. Ainda que tenhamos avançado, a presença feminina em cargos de liderança continua sendo um desafio que exige resiliência, preparo e coragem.
Para continuar celebrando essa data e destacar a importância da liderança feminina, entrevistamos Adriana Belmiro da Silva – que ocupa atualmente o cargo de CEO e que construiu uma carreira sólida no mundo corporativo, superando desafios e inspirando outras mulheres. Nesta conversa, Adriana compartilhou sua trajetória, os momentos decisivos de sua carreira e suas perspectivas sobre como as empresas podem apoiar a ascensão feminina.
Confira abaixo essa entrevista inspiradora que possui como objetivo reforçar o poder da determinação feminina e a importância de acreditar no próprio potencial.
1. Quais foram os principais desafios que você enfrentou como mulher para alcançar a posição de CEO?
Assumi meu primeiro cargo de Gestão Geral há quase 20 anos, numa multinacional alemã que tinha uma operação relativamente pequena comparada a matriz que já faturava na época quase 1 bilhão de euros globalmente.
Fui responsável pela área comercial e já vinha colhendo bons frutos gerando aumento de participação de mercado e promovendo a reestruturação da área de vendas da empresa.
Essa filial era a única que não possuía um gestor local do país, então por um problema com o gestor estrangeiro eles optarem em me convidar para assumir a gestão geral.
Na época, tinha uma boa experiencia em vendas & Marketing, mas pouca vivência em Finanças o que me fez buscar conhecimento sobre a área, depois recebi a oportunidade de assumir de liderar uma operação com manufatura que agregou mais experiencia a minha carreira.
Confesso que logo no início da carreira não percebi os desafios de ser mulher e assumir posições de liderança sempre atuei em empresas industriais com muitos mais homens em posição de comando, me acostumei a um ambiente mais pesado e por ser engenheira já convivia com muitos homens na universidade e também nas empresas, por isso não percebia os desafios de ser mulher nesses ambientes.
Entretanto, ao avançar em cadeiras de liderança e assumindo mais responsabilidades comecei a evidenciar alguns olhares sobre a minha capacidade de liderar tais desafios, infelizmente algumas pessoas chegaram a duvidar da minha capacidade, porém sempre me mantive muito aberta e ao mesmo tempo muito focada em liderar negócios bem como pessoas.
Dessa forma, os desafios foram superados com a experiencia e muito trabalho.
2. Existe algum momento da sua carreira que você considera um divisor de águas? Qual foi e como lidou com ele?
Na verdade, existiram vários momentos cruciais, que só reforçou como a resiliência e propósito claro, me fizeram seguir firma na minha jornada. Nós mulheres nos cobramos muito e por termos essa aptidão por exercer várias funções como mãe, filha, líder nós sentimos muito pressionadas e com sentimento que temos que entregar a perfeição.
Recentemente participei do projeto de fechamento de uma planta produtiva que consumiu muita energia, pois nessa empresa realizamos um grande projeto de transformação organizacional que levou a empresa para outro patamar, contudo por decisões estratégicas da matriz foi decidido pelo fechamento da planta, apesar de ter uma forte orientação a pessoas, precisamos cumprir as orientações da empresa, portanto, fizemos esse processo da forma mais profissional e respeitosa possível.
Após a conclusão percebi que havia cumprido minha missão e estava pronta para novos desafios.
Essa postura foi um divisor de águas, pois é preciso entender o momento que precisamos bater asas em busca de novos ares, com muita coragem para enfrentar o novo.
3. Que conselho você daria para mulheres que desejam crescer profissionalmente e ocupar cargos de liderança?
Jamais deixem de acreditar no seu potencial e em seus valores, você pode estar onde quiser, mas para isso é preciso muito preparo, determinação, resiliência e acreditar na sua capacidade de realização.
A síndrome da impostora nos persegue constantemente, por isso precisamos acreditar em nossa capacidade, muitas vezes estamos mais preparadas do que imaginamos, precisamos deixar de ser perfeccionista.
Além disso, não deixe de se posicionar sobre o que pensa.
Tenha mentores que possam te ajudar na jornada de carreira, esteja aberta a ouvir conselhos e refletir sobre eles
Invista em networking ao longo da carreira, crie conexões para o futuro.
4. Como você acredita que as empresas podem apoiar e incentivar a ascensão feminina no ambiente corporativo?
É preciso melhorar o mapeamento dos talentos femininos, muitas mulheres se querem sonham em assumir posições de liderança, pois muitas vezes não acreditam no seu potencial, ou mesmo enxergam barreiras que as desencorajam.
Além disso, existe um momento de inflexão chamado maternidade, muitas mulheres acreditam que não conseguem conciliar maternidade e vida profissional e essa mentalidade está errada, pois é possível através de uma forte rede de apoio incluindo parceiros (as) que apoiam o desenvolvimento dessa mulher, conciliar carreira e maternidade.
Além disso, segundo o estudo da consultoria Oliver Wyman de 2021 que apresenta 4 barreiras que impedem de as mulheres acenderem em cadeira de liderança mostra que uma delas é o fato de mulheres altamente qualificadas serem deixadas de lado, por isso é preciso reconhecer se a empresa em que você está te enxerga e o mais importante se investe no seu potencial.
5. O que o Dia das Mulheres representa para você, tanto pessoalmente quanto profissionalmente?
Eu pessoalmente não gosto da ideia de ter um dia, mas ainda vivemos em uma sociedade com tanta desigualdade e violência contra a mulher que precisamos todos os dias e não somente no dia 08 de março mostrar a realidade em que vivemos.
Aqui nem falo sobre o mundo corporativo, mas sim sobre a violência física e psicológica que muitas mulheres sofrem diariamente.
Precisamos de ações públicas serias e consistentes e punição aos milhares de agressores.
Quanto ao mundo profissional, acreditem em vocês mesmas e na sua capacidade de realização, procurem seus espaços e estejam em constante aprendizado, e o mais importante acreditem na sua capacidade quando novas oportunidades aparecerem.
E mais uma vez tenha uma rede de mentores que apoiam o seu desenvolvimento profissional.
A trajetória da Adriana nos mostra que a liderança feminina é sobre coragem, persistência e, acima de tudo, acreditar em si mesma — mesmo quando duvidam. Ainda há desafios, mas cada passo dado por uma mulher fortalece o caminho para que outras também possam trilhar suas próprias jornadas.
Que essa conversa inspire você a ocupar seu espaço, seguir em frente com confiança e nunca renunciar aos seus sonhos.
Christianne Sauá Fundadora e Diretora Associada